quarta-feira, 17 de março de 2010

The Castle III


O gato não me visitou hoje.

A conversa com a intrusa se torna banal, rotineira, vazia.

Caminho de forma automática pelo castelo enquanto meus pensamentos são levados juntos com a brisa. Vazio.

Sinto um vazio enorme naquele lugar que construí...Um lugar tão grande mas que apenas uma pessoa mora.

Quando dou por mim, meus pés me levaram até um dos pátios internos a onde deveria ser um belo jardim. Não era um lugar de todo o feio, mas era sem vida.

Um lago pequeno que tinha ligação com outras partes do castelo, os muros inacabados – mudanças de plano em cima da hora – e grama. Apenas isso.

Sorri de forma forçada. Planejei um lindo jardim para mim, mas nada sobrou de mim, quem dirá de quem eu deveria cuidar...

Pensando nisso, não me lembro como eu era antes. Aproximo-me do lago e observo o meu reflexo. Qual era a cor de minhas pétalas mesmo?

Sento na grama, o toque não era macio como esperava. Lembravam pequenas lixas fininhas.

Isso é banal agora, afinal, se eu descobrir como pude errar a mão, talvez eu descubra como concertar isso.

Olho pras minhas mãos e meu reflexo no lado. Tudo negro a onde era para existir cor.

Será que regredi?

O preto é o nada, cor nenhuma, o não luz que absorve tudo. Se eu tinha alguma cor antes e agora estou assim, significa que eu regredi.

Lembro-me que ainda tinha flores, tinha pétalas machucadas mas ainda macias quando conheci o louco. Minhas máscaras já existiam e por conta delas eu tinha uma proteção que me permitia um contato social.

Nunca vou esquecer de como ele me defendeu e cuidou de mim. Sinto falta disso. Até mesmo a dor que ele me proporcionou e querida por mim. Em meio a tantas mentiras, acho que pelo menos aqueles raros momentos eram sinceros.

Eu o refiz, e ele me refez. Por mudarmos dessa forma nos dois nos machucamos depois.

Ouvi da boca dele certa vez que não é mais capaz de construir uma barreira...Sinto-me feliz e culpada.

Por culpa dele, deixei as máscaras de lado, já não eram eficazes. Construí este palácio e a solidão só aumentou.

Sinto um carinho muito grande por ele, tanto que somente ele sabe como ultrapassar esses muros de forma segura e que eu não vá expulsa-lo.

Mas o lugar dele não é mais aqui dentro. Sei disso até em minhas entranhas. Ele sabe e também não deve desejar morar em um lugar tão feio como este.

Isso não muda o fato de que sinto falta do louco. Das ultimas vezes que o vi passar ele estava tão distante... Gritei e ele meramente sorriu para mim e continuou.

Foi a vida que nos dois escolhemos. Espero que esteja bem lá fora.

Com esse pensamento, fecho os olhos e deito na grama. Não é uma cama confortável, mas é melhor que o gelo de alguns quartos. Estou um tanto cansada de atuar, cansada até de pensar.

Durmo.

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