segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Cap VI - Such a Lonely Day

Such a lonely day

Vazio, era o que eu sentia. Não conseguia dormir mesmo depois de quase meio ano, todos os sonhos eram os mesmos e me incomodavam profundamente, minha incompetência, minha fraqueza.

Ligo a TV em um canal de jornal qualquer, saber o que houve durante o dia e vou apanhar o café na cozinha.
And it's mine

A caneca se espatifou no chão, inexistente para mim – ou era assim que eu sentia. – enquanto eu caia...Caia.

Cai sentado, em estado de choque na frente do jornal e da bela reporte ancora que estava vestida de preto para dar seus pêsames ao passar tal informação.

“É com grande pesar que terminarmos o programa de hoje com a seguinte noticia. Um caso de briga familiar interna se torna caso para a Casa Branca, com uma possível crise de relações entre os Estados Unidos da América e a Rússia.

Há pouco mais de cinco meses atrás, o casal Maxwell, empresários poderosos e nativos da cidade de NY vieram a se divorciar, e como parte do acordo judicial, ficou por conta de Andrew Maxwell a guarda de sua única filha e herdeira, Beatrix Maxwell, de 15 anos...”

Should be banned

“...Poucas informações foram liberadas sobre o caso, mas entre elas incluía o gênio forte e problemático da garota, que desde sempre se mostrou contraria a sair do país com o pai.

Dois meses atrás ela foi dada por desaparecida, e tudo tratado com a maior discrição possível na esperança de que fosse resolvido rápido, só quase um mês depois para a Sr. Gwen Maxwell foi informada e entrou com uma ação judicial contra seu marido reclamando a guarda de sua filha para assim que esta fosse encontrada, trazida de volta para NY...”
It's a day that I can't stand

Um gosto ruim na boca. Acho que eu ia vomitar. Não queria mais ouvir mas era incapaz de sair de onde estava. Já não controlava mais meu próprio corpo.

“Infelizmente, no começo dessa semana a policia russa encontrou um corpo em uma das cidades vizinhas de Moscow que encaixava-se com os dados da garota desaparecida. Dois dias depois de contatado, o empresário compareceu ao IML e identificou com enorme pesar que tratava de sua filha desaparecida...”

Shouldn't exist

Não! Não!Não! Desespero, medo, raiva, ódio, impotência, tristeza, a mais profunda que eu já pude sentir em minha vida.

Abaixei a minha cabeça, apoiando-a entre minhas mãos e os cotovelos apoiados no joelho. Ânsia.

It's a day that I'll never miss

”...Deixo registrado aqui os pêsames meus e de toda a equipe do diário de NY a família Maxwell...”

Aquelas palavras não atingiam ninguém, atravessavam e chocavam-se contra a parede atrás do sofá. Eu não existia mais.

And if you go
-Nathan! – Meu nome sendo gritado.

Meus braços acorrentados pela força do segurança.

I wanna go with you
Seus olhos se fechando. O anel no dedo.

Um dos guarda-costas se colocando na minha frente. Meu fim.

And if you die
Alunos chatos em sala, minha cabeça ainda na sala ouvindo a jornalista falar. Besteiras sendo ditas sobre a Minha preciosa pesquisa.

I wanna die with you

Um tiro.

Não lembro mais da seqüência dos fatos, estava sendo arrastado pela correnteza sem ninguém me oferecer ajuda novamente. Até o Sr. Brownstone concordou com a minha demissão.

Take your hand And walk away

Seu nome escrito no anel de prata. Parece até uma memória distante, de um belo sonho no qual fui forçado a acordar.

Mas amanha será outro dia.

Tenho que ir para o Sanatório do estado, minha entrevista de emprego, tenho certeza que meu “pequeno” incidente na faculdade de nada importará para eles, não tendo em cárcere os “espécimes” que eles tem.

Eles pagarão.

Bia...

A ultima gota.

Such a lonely day
And it's mine
The most loneliest day of my life

Cap V - Última Sexta

Já estávamos assim a alguns meses. Acho que posso dizer, os melhores da minha vida ainda que sempre tivéssemos que escolher os lugares mais afastados, humildes e/ou violentos para passearmos juntos. Apenas em lugares assim os pais dela não freqüentavam ou conheciam pessoas que pudessem nos delatar.

Na semana seguinte, já tínhamos o novo horário oficial das quintas, e na metade do tempo em que passamos juntos, suas consultas acabaram. Bia estava certa quanto aquilo. Era estranho não vê-la no consultório.

Preferia infinitamente vê-la em casa mesmo.

Infelizmente algo deu terrivelmente errado.

Era mais uma segunda como todas as outras. Saia do trabalho e voltava para casa, fazia minha rotina de higiene, jantava, ligava pra Bia e ia dormir.

Ao menos, era o que eu imaginei que seria.

Amo poder vê-la, tínhamos passado o fim de semana inteiro juntos e tudo estava bem, ao menos, acreditava nisso até abrir a porta da cozinha e dar de cara com ela sentada no sofá da sala abraçando as próprias pernas, com o rosto vermelho e de olhos inchados (Tinha dado uma copia da chave para caso de emergência). Não era difícil imaginar o quanto ela havia chorado pra chegar naquele estado. Senti uma sensação ruim, como a do pesadelo que tive no dia em que dormimos pela primeira vez. Algo terrível estava por vir, e eu não sou de acreditar nessas coisas.

-Bia...O que...- Tranquei a porta o mais rápido que pude e apressei-me para a área da sala, ajoelhando-me na frente do sofá a onde ela estava.

Não recebi uma resposta verbal imediata, apenas um abraço apertado e desesperado. Ainda não tinham terminado as lagrimas.

-Acalme-se, está tudo bem, eu estou aqui... – Retribui o abraço, tentando conforta-la de algum jeito para que pudesse falar.

-Por favor...Não deixe...Não deixe eles me levarem, por favor, por favor... – Ela implorava algo que não fazia o menor sentido. O pesadelo dela. Deveria ter se repetido aquela noite.

-Foi só um pesadelo...

-NÃO! – ela berrou e me soltou, indo para o outro canto do sofá e voltando a abraçar as pernas.

-Bia...- Sentei-me ao seu lado novamente, procurando um meio de traze-la para meus braços novamente.

-Ele descobriu... – Parecia finalmente perceber que eu não podia ler seus pensamentos e tinha de me explicar o que acontecia.

Um aperto no meu coração. Desespero. Andrew Maxwell não era o tipo de homem calmo, um empresário muito bem sucedido e imagino que nem sempre tenha sido pelo seu incrível taco pra negócios...

Ela respirou fundo, secou as lagrimas do rosto e ajeitou a postura no sofá, sem voltar a se jogar no meu colo.

-Ele descobriu sobre nós...Não sei como...Discutiu com a minha mãe e pediu divorcio. Ela não sabe de nada. E-eu...Me desculpe Nathan, não podia contar nada, eu acreditava que ficaria com a minha mãe em NY... – Ela estava escondendo aquilo tudo de mim? Obvio que não gostei, senti-me enganado. Para piorar, enquanto ela dizia, tinha certeza que me escondia algo mais, algo maior. – Meu pai venceu a ação. Tinha me proibido falar qualquer coisa para você, caso contasse, ele o colocaria no tribunal, ganharia com facilidade, e acabaria com sua vida. – A pior parte, ele realmente era capaz de fazer isso mesmo tendo ganho e ela se comportado. Ainda a contra gosto, entendi o que ela havia feito, aceitou a chantagem para me proteger.

-E vocês vão para onde...?

-Para a Rússia. Essa sexta. Mandou que eu guardasse tudo que fosse meu, já está quase tudo pronto e ninguém mais sabe.

Bia voltou a se jogar em meus braços e por mais raiva que sentisse por ter me escondido aquilo tudo, não fui capaz de resisti. A abracei com todas as forças que eu tinha, sentindo a vontade dela de chorar passar para mim.

-Por favor, por favor...não deixe eles me levarem...por favor... – Voltou a implorar e a chorar. Tinha algo mais, sabia que tinha, e seja o que for, era menor em comparação a problema iminente. Sua viagem para fora do país de forma forçada.

-Nós...Nós vamos dar um jeito. – Apertava-a com todas as forças que tinha ,assim como ela fazia comigo. Tinha certeza que agora partilhávamos do mesmo medo, de nunca mais poder estarmos assim. – E-eu...Tenho uma antiga fazenda...Em Georgia. Nos podemos...Podemos ir pra lá na quinta de noite. Não sabem nada sobre a fazenda, não será fácil liga-la a mim, nos podemos ficar lá até encontrarmos um lugar melhor pra ficarmos... – Tentava pensar. Desespero não ajudava em nada nisso. Só o cheiro dela e ela ainda estar ali era capaz de me fazer pensar.

-Você não vai levar nada, pra que não desconfie. Saia da aula e venha direto para o bar. Com tantas pessoas, vai ser fácil perde-la de vista...Nos vamos direto. Pego outro carro, deixo o meu na garagem intocado. Ok? Vai dar tudo certo Bia! – Ergui o rosto dela, obrigando-a a me encarar. Tentava engolir o choro e acreditar que tudo daria certo. Nem eu estava acreditando que aquilo daria certo, não conhecendo a fama do Sr. Maxwell.

Nos beijamos, desesperados. Por alguma razão sentia como se fosse uma das ultimas vezes que o faria em vida.

Deveria ter desconfiado que as coisas estavam indo bem demais para mim. Nunca as coisas dão certo. Nunca.

Ela não podia ficar muito tempo, teve que ir antes de levantar suspeitas sobre sua sumida e eu fiquei sozinho repensando o plano e tentando melhora-lo, eliminar as possíveis falhas, tudo. Isso Precisava dar certo.

Terça, consegui o carro, apesar de arranjar um de forma que não pudessem chegar até mim posteriormente definitivamente não fosse a minha praia, eu consegui.

Quarta, deixei-o pronto para partir, isso incluía algumas mudas de roupas para mim e para Bia (Desnecessário comentar o desconforto em comprar essas ultimas). Também comprei um presente surpresa pra ela.

Quinta. O pior dia de todos. Mal conseguia prestar atenção e simplesmente deixei os alunos seguirem com o seminário, fingindo alguma atenção e limitando-me a corrigi-lo em caso de erros muito gritantes – que obviamente foram ditos – e corri para casa. Peguei o carro, estacionei ao lado do boteco e fiquei sentado escondido em um canto a sua espera.

Pedi uma cerveja, da qual quase não toquei, chamei um bêbado para sentar comigo e disfarçar, deixei a bebida pra ele e pedia outra de tempos em tempos. Mãos suando frio, radio ligado a espera de qualquer aviso dela de que estava chegando. Nada

Cheguei as 6 – o que em plena sexta, significa um considerável movimento – já aproximava-se as 11 da noite e nenhum sinal.

Sai de lá pela manha, quando o bar fechou e nenhum sinal dela.

Peguei o carro e fui até o aeroporto de John F. Kennedy. Sabia que se ela não apareceu e nem me deu nenhum tipo de informação significava que algo havia dado terrivelmente errado.

Estava exausto, quase 24 horas acordado direto e em alerta sempre. Foi quando eu vi. O homem alto e forte sempre de terno e gravata entrar na fila pro check-in. Junto dele, um outro homem bem mais baixo, com uma certa idade e três seguranças que era mais gorilas que homens. Por fim, entre eles, sem escapatória, Bia.

Meu coração travou. Ela estava pálida, com cara de quem não havia dormido também, usando um velho jeans, botas e um casaco de peles o que indicava que realmente estava indo para um lugar muito frio.

Mantive-me o mais que podia quieto onde estava, de costas. Mandei-lhe uma mensagem pelo aparelho e ela recebeu.

-Me entregue isso.

-Nem se atreva a mexer nas Minhas coisas – Ela rosnou para um dos seguranças, leu a mensagem com o celular ainda dentro da bolsa e a fechou, sem me procurar. Assim que as coisas deveriam ser.

-Tenho que ir no banheiro.

-Você não vai a lugar algum Bia!

-Ok pai, então você quer que eu fique com as calças vermelhas bem no meio do aeroporto até nosso vôo sair?! – Só ela tinha coragem de agir assim com o Sr. Maxwell, que a fuzilou com o olhar.

-Você, vá com ela. – Disse, indicando um dos seguranças.

-Ele vai ficar na porta! – Aquilo foi quase um grito. – Não quero entrar no banheiro com um homem!

O segurança parecia estar fazendo força para não responder a dondoca ou fazer coisa pior.

Era minha deixa. Sabia onde eram os banheiros de lá e como eram suas janelas, já tinha viajado ali antes. Rezava internamente para que Bia tivesse a mesma idéia que eu. Sai do aeroporto e fui para a parede do lado de fora que correspondia aos banheiros. Não era o lugar mais cheiroso, mas se fosse nossa chance, pouco se importava o cheiro!

Em menos de dez minutos eu a estava abraçando mais uma vez. Um beijo longo e demorado, como se não existisse amanha – e de certa forma não existiria mais – quando finalmente paramos, estávamos arfando pela falta de ar. Adrenalina e desespero. Não tínhamos muito tempo

-Vamos!

-Espere, tenho uma coisa que eu quero te entregar antes. Temos uns 10 minutos no maximo...- E cacei dentro do meu casaco a caixinha de veludo preto. Tinham duas alianças de prata dentro, um pra cada um e com o nossos nomes trocados dentro (o meu na aliança dela, e o dela na minha.). Acho que nunca a vi sorrir tanto quando no momento em que recebeu o meu anel. Era importante pra ela aquilo, já havia dito antes, e agora era importante pra mim, pois sabia que a probabilidade de fugirmos juntos era remota.

Não houve troca de palavras, colocamos nossos anéis e corremos. Não tínhamos tempo.

Entrei no carro, e antes mesmo de conseguir dar a partida, braços monstros já estavam abrindo a porta em cada lado, puxando nos dois para fora.

-Bia!

-Nathan! Me largue seu gorila desgraçado! – Xingava-o de tudo que conhecia enquanto se debatia. Nessa hora senti inveja dos valentões da escola. Se eu tivesse um mínimo de força, talvez tivesse conseguido fazer mais do que apenas ser preso e forçado a observa-los levarem-na de mim. Alias, apenas um a levava aos berros e lagrimas até o pai e o outro homem baixinho que esperavam não muito longe dali no estacionamento.

-BIA! – Ela chorava, se desesperava e lutava com tudo que podia para ser solta.

(As luzes do estacionamento começaram a explodir)

Essa luta não durou muito. O acompanhante anônimo, que agora imagino que fosse um medico ou um enfermeiro contratado pelo Sr. Maxwell para manter a filha sedada, fazia seu papel. Uma agulha no pescoço e em segundos ela já não gritava, não fazia força, tudo que podia era chamar meu nome enquanto tivesse forças e manter os olhos pra mim, até mesmo depois de se fecharem.

Estava tudo acabado. Eles haviam ganho e levado-a de mim.

-Acabem com ele. Ela descumpriu nosso acordo, não devo manter a minha parte. – Foram as ultimas palavras daquele antes de ir embora, os quatro, deixando dois seguranças para trás que dariam conta de terminar o serviço, ou seja, terminar comigo.

Começando pelo clássico soco no estomago. Acho que nada do que eu apanhei na minha vida havia me preparado para algo tão ruim quanto.

Mais outros golpes, e um na cabeça foi o suficiente para me fazer desmaiar.

Acordei no hospital alguns dias depois, com toda uma equipe medica cuidando de mim a pedido de algum desconhecido.

Não tinha vontade de continuar. Havia perdido a única coisa que vali a pena, que me fazia sorrir. A essa altura, ela já estava na Rússia.

Tentava me esforçar, lembrar-me de qualquer coisa, qualquer coisa. Com a ordem de Andrew Maxwell, eu certamente era para estar morto, e nenhum dos dois guarda-costas pareciam ter ido com a minha cara para poupar-me a vida. Alguma coisa aconteceu. A policia? Sendo ordem de quem foi, muito provavelmente nem eles se dariam ao trabalho de olhar.

E ainda alguém me deixou no hospital com uma boa equipe cuidando de mim.

Por que?

Que importa?

Gosto amargo.

Eles iriam pagar.

Era a última vez que eu fora o idiota fraco que simplesmente permitia que os outros tirassem as coisas de mim, as pouquíssimas que importavam, e riam.

Cap IV - Sábado

-Bia...Mas...Por que?

-Você é fraco demais, covarde demais. Cansei – Ela deu ombros e seguiu embora, com um outro homem, mais alto que eu e muito mais imponente.

-Bia, por favor...Não! Não! – Eles partiam sorrindo e rindo, me ignorando.

-NÃO! – Acordei assustado, suado e minha cama também estava úmida de suor e outra coisa diferente. Ela não estava ali. Pânico momentâneo, embaralhado com flashes do que aconteceu na noite passada. Suas mãos me acariciando e arranhando, por falar neles, estavam ardendo um pouco minhas costas. Arrancando minhas roupas, seus gemidos, seu silencio na dor. Lembro-me de quão feliz e apavorado fiquei ao perceber que não era só eu quem estava fazendo aquilo pela primeira vez. Sangue.

Estava ali. Não foi um sonho! Uma mancha vermelha no meio dos lenços, aquilo realmente aconteceu! Mas...Onde ela estava?

-Bia? – Me levantei e senti um cheiro constrangedor. Era melhor tomar um banho antes de qualquer coisa. Assim o fim, notando com certo carinho que havia outra toalha pendurada no box pra secar. Ela tinha tido a mesma idéia.

Sai, sequei-me e vesti uma bermuda velha de ficar em casa. Um barulho vinha da cozinha, e assim que pus os pés na sala – áreas conectadas – pude ver uma mesa posta e ela de costas pra mim, vestindo uma de minhas camisas sociais que se tornava um verdadeiro vestido nela. Estava terminando de apanhar dois copos.

Sorri e deixei meu corpo encostar na parede de ligação das áreas enquanto a observava.

-Sempre pensei que era trabalho do homem levar o café até a dama.

Quase tive uma pequena crise de risos ao vê-la tropeçar e cair sentada numa das cadeiras.

-Nathan!

-I´m so sorry. Não resisti.

-Humf, engraçadinho. – E fez uma careta, cruzando os braços e se mantendo sentada onde estava. Não tinha mais o que fazer mesmo, tudo já estava posto e a minha espera. Torradas, manteiga, geléia, uma caixa de suco de laranja e certamente isso era tudo que tinha. Eu e a cozinha tínhamos uma relação distante, e de alimentos, apenas o estritamente necessário.

-Você deveria fazer umas compras.

-Não como em casa e nunca ninguém vem aqui.

-Ah, então toda essa arrumação irritante é sua mesmo?

Fechei a cara. Não é porque sou um homem solteiro que tenho que ser bagunceiro. Sentei-me ao seu lado e a abracei. – Preferia ter acordado com você do meu lado...- Palavras sussurradas, ela se aninhou mais em meus braços sorrindo.

– Não consegui dormir muito. Estava cansada...e... tive um pesadelo...

Bom, pelo jeito, as coisas estavam sendo compartilhadas.

-Um pesadelo?

-É...Que alguém me levava a marra pra longe daqui e você simplesmente deixava... E...Ah, deixa pra lá. – E me abraçou de volta, com força.

-Tive um pesadelo parecido...Só que você quem partia, e por vontade própria.

-Nunca!

A resposta rápida me fez sorrir, me tranqüilizar. Era tudo que eu precisava ouvir. – E eu nunca vou deixar te levarem de mim...I promise...

Vários beijos no ombro, pescoço, e por fim, nos lábios. Estava faminto, como se finalmente tivesse me curado de um mal que me afligia por muito e muito tempo. Agora, com ela ali, tudo estava bem, tudo ficaria bem, e eu podia continuar.

Apesar de...Lá no fundo, alguns medos gritarem comigo.

-Não tem...Problema, você ter passado a noite fora? – Indaguei assim que fui liberado e comecei a passar um pouco de geléia na torrada.

Ela riu. – Com alguma sorte, eu volto pra casa no domingo. Eles já estão acostumados, nem ligam mais!

Aquilo era estranho e me preocupava. Se ela era virgem até noite passada...O que raios ela ficava fazendo fora tantos dias da semana?

-Eu vou pra bares, baladas, e durmo na casa de uma amiga, que alias, mora aqui por perto. – Respondeu meus pensamentos, provavelmente minha expressão me denunciara mais uma vez.

-Ah sim...- Tentei me controlar, ainda sentindo um pouco de ciúmes.

-Alias...Me desculpe, acho que te devo um jogo de lençóis novo... – Comentou sem graça e só então lembrei-me da mancha. Silencio constrangedor. Não era pra ser assim droga! Nos já...Bom, tínhamos feito, porque ainda sentíamos tanta vergonha?

-Não foi culpa sua – E não era mesmo, apesar de que, ela poderia ter me contado antes...

Ok, se tivesse o feito certamente eu não teria coragem de continuar, independente do nível etílico na minha corrente sangüínea. Eu já quase dei pra trás quando notei algo um pouco mais complicado e notei a cara de dor dela. Era bom, assustador, complicado, simples e fantástico. – Você está bem...? – Acho que hora errada para perguntar isso. Alias, acho que foi uma péssima pergunta, infelizmente, quando notei eu já tinha feito. Bia quase engasga com o suco de laranja, suas faces mais do que vermelhas e eu senti as minhas começarem a arder também.

-Foi perfeito... –Ela disse por fim, tentando esconder o sorriso com o copo de suco. – Doeu – Continuou, antes que eu fizesse outra pergunta. – Mas foi com você, então foi perfeito. Tenho certeza que vai ficar melhor. – Riu baixo e piscou um de seus olhinhos pra mim. Estávamos no mesmo barco e ainda assim ela parecia inúmeros anos mais madura que eu naquele assunto. Nunca pensei que me sentiria tão inseguro. Também, depois de formado, eu nunca pensei que faria aquilo e tinha feito.

Preferi não falar mais nada a respeito e não me humilhar mais. Com o tempo a coisa melhorava, eu era um cientista, só precisava de...pratica.

-Se não tem comida em casa...Para onde vamos hoje? – Bia animava-se rapidamente com a idéia de sairmos. E lá estava meu medo novamente no meu colo feito uma criança irritante gritando comigo que NÃO era para sairmos.

-Bia...Talvez não fosse uma boa idéia.

-E por que não?

-Nos falamos sobre isso ontem...Se nos virem...

Respirou fundo, procurando paciência sendo que ela quem estava sendo a atirada.

-Primeiro, Dr. Corbie. Não é a cidade inteira que nos conhece e vai acabar dando com a língua nos dentes. É só sabermos onde ir...Segundo, não precisamos andar agarrados por ai feito namoradinhos... – E sorriu divertidamente. – Ou não vai resistir?

Odiava quando ela fazia esse tipo de provocação.

-Que eu saiba...Você quem me agarra quase sempre.

-Não no carro, parado na frente de um bar cheio de gente.

Corei. Tinha me esquecido disso. Maldito Whisky.

-Então...Vai levar a sua garota para jantar ou não?

-Desde que ela não fique me provocando e provocando os outros.

Vez dela emburrar e minha de rir.

-Oras, era só o que me faltava! – Começou a comer seu pão com geia e a me ignorar.

-Ok, ok...Então, minha garota gostaria de sair para jantar comigo hoje? – Puxei a cadeira dela para mais perto, abraçando-a com um braço e dando uma fungada no seu cangote.

Ela riu e se aninhou perto de mim.

-Que tal um cineminha antes?

-Não seja tão abusada

-Ah! Vamos! Por favor! – E fez a cara mais dengosa que podia. Quase tive uma crise de risos.

-Vamos ter que encontrar um cinema bem afastado então...

-Eu conheço um!

Uma agulhada de preocupação e ciúmes. Por que ela conhecia um cinema afastado de todos?

-Hey hey, apenas confie em mim, ok?

Preferi deixar o assunto morrer e terminar o café da manha.

Saímos pouco depois, ela tinha que comprar uma roupa nova em algum lugar, seria estranho ficar usando uniforme do colégio por ai. Almoçamos fora em um dos limites da cidade. Me surpreende o quão bem ela conhece os confins da nossa cidade, e mais, o porque ela os conhece. Não consegui arrancar justificativa, apenas a mesma frase que encerrou o problema no café da manha.

Só uma coisa me incomodava de fato. Os olhares. Ou olhares maliciosos pra cima de Bia que faziam meu sangue ferver em ódio, ou os olhares pra cima de nos dois, como se soubessem e me acusassem silenciosamente daquilo que toda a sociedade condena.

-Apenas ignore-os.

Aparentemente não consegui controlar meu olhar e meu gênio diante de tanta insolência, e precisei da voz dela para me acordar.

-É difícil, eu sei, mas vamos, o filme logo vai começar!

Ela me puxou pelo braço, tentando parecer como uma irmã ou qualquer coisa do gênero. Dentro do cinema de quinta, com tudo escuro e uns poucos espectadores – a maioria casais de áreas próximas – a coisa mudou um pouco. O filme não era dos melhores, quase saindo de cartaz, e ainda assim acho que foi uma das melhores idas ao cinema que já tive. Principalmente que a atração principal estava do meu lado e não na tela.

Saímos, fomos jantar como ela queria. Um restaurante de frutos do mar que tinha ali por perto. Entramos, sentimos o cheiro e saímos. No fim uma comida chinesa foi o nosso jantar, já no meu apartamento e ela usando sua nova camisola (minha camisa social de hoje de manha).

Era estranho ter um dia de namorados como os casais normais tinham todos os fins de semana. Ok, quase normal já que tínhamos que tomar infinitos cuidados por ai.

Na volta, alugamos também alguns dvds de filmes, que depois que começava, passava a receber tanta atenção nossa quanto o filme no cinema. Ou seja, Nenhuma.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Ingrid Michaelson - Parachute




My Romantic Side
The Little Girl

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Florence And The Machine - Howl




DIVA DIVA DIVA!S2

Sextas - Cap III

AE! Terceiro cap! Que emoção! KKK
Porra, serio mesmo que ninguém vai me ajudar a dar um nome pra saporra! Vai ficar como sextas entons!uú Até segunda ordem
Bom, regras de sempre, Sem xingamentos, Vlw?
E, se beber, não toquem no carro!XD


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Pensei que esse vidro de Whisky que ganhei dos meus colegas de trabalho como boas vindas ficaria lacrado até ser passado a diante como presente. Apenas pensei, pois assim que Beatrix deixou meu escritório mais uma vez sem me dirigir a palavra eu senti sede de algo que apenas água certamente não saciaria.

Era amargo, forte, e tinha um cheiro que não me agradava. E o que importa? Ela era a ultima hoje. Mandei Miranda embora – não, ainda não a despedi – e rearrumei minha mesa, colocando um copo – veio junto com a garrafa – e a garrafa sobre a mesa. Bebi dois dedos, quase engasguei e pus tudo para fora. Continuei. Quanto mais aquilo me incomodava, mais me fazia bem. Talvez fosse por isso a existência de tantos alcoólatras no mundo. Era bom no começo. Pena que eu ainda sou demais racional para simplesmente beber toda a garrafa e voltar para a casa. Duas dose e meia foi o que eu agüentei por pra dentro e depois fui dirigir. Sim, sei que é errado, só não acredito que eu tenha bebido o suficiente para sair batendo no primeiro poste de iluminação da rua. Eu apenas estava...Mais leve.

Ah, claro. Levei a garrafa comigo para casa, parecia estar ganhando alguma importância agora.

Passei novamente no boteco de sempre e vi novamente uma cabeleira vermelha. Ignorei. No mês passado era apenas outra mulher, o que significa que agora deveria ser a mesma.

-Já disse pra ir embora, seu bêbado nojento! – Só que a voz era conhecida. Ok, quase bati com o carro, mas definitivamente o motivo era a voz e não o álcool.

Era a voz dela. Alta e clara. Irritada. Desliguei o carro em qualquer canto da calçada, faltando menos de uma quadra para o meu prédio e pulei pra fora.

É vergonhoso dizer isso, devo ser fraco pra álcool, já que o que bebi foi mínimo e ainda assim tenho certeza que estava tendo grandes diferenças de minhas reações habituais. Lá estava eu. Um psicólogo, franzino, baixinho, com óculos de armação quadrada e ainda usando terno parado na frente de um homem que tinha no mínimo o dobro de seu tamanho e certamente passava o dia inteiro dentro de uma academia. Isso tudo porque Beatrix estava tentando fazer aquele bêbado maldito entender a nossa língua e larga-la.

-Não faz drama, dondoca, veio até aqui, vai ter que pagar pedágio pra continuar... – Ele ria, puxando o braço fino de Bia mais pra perto. Eu não estava longe, alias, estava quase de frente pros dois só que ainda não tinha achado minha voz pra me anunciar, e como ambos estavam muito ocupados numa lutinha interna, nem ao menos me repararam ali.

-Sai pra lá seu nojento! – Não foi um chute por falta de posição, ainda assim um belo copo de cerveja preta voando, isso teve. Bebida e recipiente se espatifaram na cara do brutamontes que em resposta, puxou a garota com as duas mãos. – Olha aqui sua putinha.

-Oh Grandão. – No que ele se virou pra me ver não teve nem ao menos tempo de gravar meu rosto. Ainda fico pensando de onde tirei forças pra dar o murro que dei no nariz dele sem cair pra trás com de dor. Talvez seja culpa do Whisky!

-Nathan!? – Bia ainda estava congelada naquela cena, livre e congelada. Acho que ela não esperava que o covarde aqui pudesse isso! Sabia que a dor viria, e sabia que a dor dele passaria rápido, em dois segundos eu já estava me colocando pra fora de lá, arrastando ela comigo. A briga do lado de dentro explodiu como já era previsto que aconteceria. Todos queriam isso, só estavam esperando o primeiro soco, e eu não estava nem um pouco afim de ficar e receber a retribuição por isso, já aconteceria quando o álcool deixasse meu corpo e começasse a sentir a dor na minha mão.

-Nathan...O que? O que você está fazendo aqui!?

Adrenalina, testosterona e Álcool, apenas a respondi segurando seu queixo e forçando seu rosto a se aproximar, tomei seus lábios e a beijei apaixonadamente por alguns segundos antes de solta-la e correr pra dentro da garagem do meu prédio. Nada de represálias ou recusas. Estava assustada, atordoada. Acho que consegui devolver o favor do escritório.

Estacionei o carro na vaga de sempre, permanecendo sentado mesmo depois de desligado e passei a observar a parede a minha frente. Eu tinha feito aquilo. Bia apenas ficava calada ao meu lado, observando-me como se fosse um et, tentando encontrar alguma falha em minha imitação do Dr. Corbie.

-Bia...Me desculpe...Eu.

-Você me salvou....- Ela me interrompeu, ainda surpresa com os acontecimentos dos últimos dois minutos. Me virei pra ela e passei a fita-la nos olhos. Tive uma pequena esperança que nos agarrássemos de novo, só que ela deveria estar mais sóbria que eu, ou então ficava com um humor bom quando bêbada, pois começou a rir de toda aquela situação, desviando o olhar para a parede e tendo sua crise de risos.

-O...O quê? Por que está rindo? Bia? – Não adiantava chama-la, ela simplesmente não conseguia parar de rir. Pior, aquilo era contagioso, até eu comecei a rir desconhecendo a piada. Aquilo deveria ser mesmo algum tipo de ato reflexo, já que mais uma vez fui calado por um beijo. Estava começando a gostar dessas surpresas. – Pensei que fosse me abandonar pelo seu medo... – Murmurou ao fim, mantendo o rosto próximo ao meu.

-B-bom...Eu não podia deixa-lo te agarrar contra a sua vontade...- Tentava arrumar uma desculpa racional. Tinha mais em jogo do que apenas salva-la. Não agüentaria ver outro homem tomando pra si o que era Meu.

Depois de alguns minutos naquele silencio que fui desperto para onde e quão expostos estávamos. Um carro chegava na garagem e precisávamos sair dali depressa. Sai do carro e corri para o elevador, Bia logo atrás, rindo e se divertindo de toda aquela situação. Se não fosse por uma placa consideravelmente grande no espelho avisando sobre câmeras de segurança, ela provavelmente teria me agarrado ali mesmo. Ou eu o faria.

Sai do elevador as pressas e ela me seguindo com um sorriso enorme no rosto e as mãos atrás do corpo. Conhecendo-a como eu conheço. Ai tinha! E claro, sempre que estamos juntos, alguém quem te ser testemunha e lá estava o pirralho do vizinho no corredor olhando pra nos dois com cara de perdido, quase entrando pra perguntar pra mamãe o que estava acontecendo.

-Entra logo! – Não precisei pedir uma outra vez e Bia já pulava para a cozinha do meu apartamento, quase tendo uma crise de riso pelo meu nervosismo. – Do que você está rindo!?

-Deveria se ver no espelho! Você ficou branco quando viu o moleque! – Ela sentou-se na cadeira e continuou com as mãos nas costas.

-Claro! Se ele abrir o bico que me viu entrando... – E me calei. Ela perdeu o sorriso ao ouvir o começo da minha declaração de medo. – Bia! Você sabe exatamente.

-Eu sei exatamente dos riscos, mas você nem por um instante pensou que podem ser contornados facilmente? Sempre fica tão desesperado que nem pensa nas soluções!

Pronto. Lá se foi toda a felicidade dela de estar comigo. Tanto que nem mais tentou esconder a garrafa de Whisky que encontrou no carro e a deixou sobre a mesa mesmo.

-Bia...Eu quero. Só...Tente entender o meu lado! Alias, entenda o Nosso lado, pois se descobrem, você também terá problemas.

-Não ligo, meu maior medo é estar longe de ti.

Aquilo me silenciou. Respirei fundo num misto de pânico e felicidade. Deixei a chave virada na porta e caminhei até onde ela estava, ignorando sua cara triste e a abracei. – Meu maior medo é que te afastem de mim. Quase morri nesse um mês que não apareceu. Mas entenda, se descobrirem, eles Vão nos afastar...- Tentava dizer com calma. Precisava que ela entendesse porque só assim conseguirmos arrumar as coisas e seguir. Juntos, preferencialmente.

Fiquei feliz ao sentir os braços dela envolverem meu pescoço. Seu perfume. Seu calor. Isso me acalmava, me fazia esquecer todos os pesadelos que vivi e que quis destruir. Tudo.

-Nos vamos dar um jeito...Só não me apavore agindo assim, por favor...- Sua voz era baixa, fraca, como se ainda tivesse medo de que eu mudasse de idéia e negasse tudo, mandasse-a embora e pronto. – Desculpe-me...Vou tentar me controlar mais...

Depositei um beijo em seu ombro, próximo ao pescoço e pude notar com certa felicidade que se arrepiava. Seu sorriso se abria e tudo que desejava era ficar assim com ela, em um lugar seguro, longe de todos os problemas.

Aos poucos o abraço foi se afrouxando e ela passou a me encarar com um sorriso divertido. – Agora...Mudando de assunto...Desde quando o Dr. Corbie Bebe? – Indagou, indicando com o dedo a garrafa de bebida aberta e já com uma pequena falta no seu conteúdo.

-I-isso? Bem, eu ganhei como presente dos meus futuros colegas de trabalho na faculdade. Fui aceito novamente lá, desta vez, como membro do corpo docente.

Senti-me envergonhado com isso. Quando Bia me contara que bebia, deixei bem claro minha opinião contra tal tipo de “fuga”, e lá estava eu, numa situação gerada pela minha pequena escapada. – Olha, eu não bebo, eu apenas...

-Não precisa se explicar, Nathan, estava apenas querendo ser chata – Mostrou a língua e se levantou. Fiquei meio perdido ainda ajoelhado no chão, acompanhando-a com o olhar e vendo para minha surpresa que ela ia até o congelador, pegando gelo e colocando dentro de um pano de prato que encontrou. – Agora sente-se, o álcool não vai te proteger eternamente da dor. – Por mais assustada que ela estivesse na hora, pelo visto tinha gravado e muito bem na memória o ocorrido no bar. Sentei-me com um sorriso forçado no rosto.

-Não tem pro....Ai! – Tinha, o frio do gelo parecia despertar a dor que se escondia no fundo da mão. Bia sentou-se numa outra cadeira, de frente para a minha e segurava minha mão entre a dela e o saco improvisado de gelo.

-Foi muito corajoso pra quem bebeu pouco, eu imagino, fazer aquilo...Aquele cara era o dobro de nos dois juntos, eu acho. – Comentou rindo. Sentia-se orgulhosa de mim e eu estava feliz por agora receber seus cuidados. Eu não havia ganho a luta simplesmente porque fugi antes dela começar em si, apenas alcancei meu objetivo e pronto. E meu objetivo estava agora cuidando de mim, como se fosse um verdadeiro campeão.

-Eu não podia deixa-lo te agarrar a força! – Tentei parecer mais imponente, o gelo tratou de tirar esse meu ar. Argh, aquilo começava a doer. – Você socou uma parede de músculos e ossos! Espero que não fique tão ruim. – Ela fechou minha mão sobre o saco de gelo e puxou-a até os lábios, depositando um beijo carinhoso sobre meus dedos.

-Meu cavaleiro de armadura brilhante – Riu, me olhando com tanto carinho que sinceramente esqueci a dor da mão.

-E a universidade...?

Aquela pergunta me fez acordar pro assunto que ela ainda não estava a par completamente.

-Fiz o teste, passei com mérito, e fui contratado. Começarei juntamente com o novo semestre. Poderei concluir minhas pesquisas lá dentro, ao menos, foi o que o Prof. Brownstone me disse. – Era estranho depois de tanto tempo de tudo resolvido só agora dizer isso. Ela fez uma cara esperançosa que me fez sorrir.

-E vai deixar de clinicar?

-Não. Ele me disse que era bom eu manter a clinica, trabalho extra, alem de oportunidade de estagio para os alunos. Vou reduzir minhas consultas e dividir com outro alguém o lugar.

-Ah... – Bia parecia desanimar.

-O que houve?

-Se deixasse de clinicar, teríamos menos um problema...

-Não vejo como uma coisa afeta a outra...

-Suas sextas.

Ri. Tinha até me esquecido de todo o começo da confusão.

-Eu mudo seus horários para quinta.

-Ai vai passar a se embonecar nas quintas. – Agora ela quem ria.

-Não vai ter tempo para isso. Não posso dispensa-la assim sem mais nem menos depois do que aconteceu...Mas serei rápido.

-Vai ser estranho... – Mordeu o lábio inferior, fitando-me tão fundo nos olhos que me senti envergonhado.

-Estranho...?

-É, vê-lo sem ser no seu consultório...

-Nós não precisamos de lá. – E seu sorriso se alargou que eu novamente senti minhas bochechas doerem. Como raios ela conseguia fazer aquilo?! Desviou seus olhos por alguns instantes, mordendo o lábio inferior e se levantando. Foi atrás de dois copos no escorredor e mais uma travessa de gelo. Gelo em ambos os copos e abriu o Whisky. Quis protestar contra vê-la beber bem na minha frente até ela me oferecer um dos copos e estender o dela.

-Um brinde?

-A superação do seu medo – Bia sentou-se na mesa, bem na minha frente e bateu de leve seu como no meu para criar aquele típico barulho de vidro.

-A nós. – A corrigi, bebendo mais um gole de daquela bebida amarga e puxando-a para cair no meu colo e tomar-lhe os lábios.

É, acho que o álcool esta começando a fazer seu milagre. Ficamos assim por algum tempo, não interessa quanto. Seus lábios, sua língua, o contato com a mesma. O arrepio de cada toque, cada beijo extra. Meu coração estava acelerado, sentia-o bater nas minhas costelas com força algumas vezes. Era essa a sede que eu sentia.

Um caminho de beijos úmidos e carinhoso foi feita da minha boca até minha orelha, onde num sussurro ouvi-a proferir uma fraca que me fez sorrir.

-Off with your head...

Ajeitei-a melhor em meu colo e me levantei, carregando-a em meus braços até meu quarto. Finalmente teria uma noite em que as coisas não se passavam só na minha cabeça.


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Sextas - Cap II

E Ai vai a segunda parte dessa merda! XD Nossa, primeira vez que eu coloco a continuação de uma de minhas historias. Tinha que ser a mais lixo pra continuar, ne?!
Anyway, regras de antes. Não me xinguem, por favor! KKKKKK



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Outra sexta feira.

Acordei cansado, preocupado, sem vontade alguma de me levantar. Fiz todo o meu ritual de sextas, era automático. E irritei-me quando notei que continuava a me arrumar.

Deixei de passar perfume propositalmente. Sai mal humorado e cheguei ao escritório sem dizer nada para ninguém.

-Bom dia Dr. Corbie...Os Professores. – Não a deixei terminar e apenas entrei no meu escritório, já sabendo quem estava dentro e preparado para mais uma manha chata.

Foi uma manha como todas as outras de sexta, mas era irritantemente diferente. Parecia tudo pior que nunca.

A tarde chegou e eu estava sentado em minha poltrona, novamente observando a rua. Meus olhos a procuravam sem minha permissão sem serem capazes de encontra-la no meio de tantos adolescentes de saída.

Os carros iam embora. Poucos iam a pé, para cafés e restaurantes caros ao lado do colégio. Nada dela.

-Dr., o paciente das 18...- E ela simplesmente não veio.

Era frustrante. Estava preocupado pela manha, ainda repassando mentalmente o que diria e como agiria para no fim ela não aparecer e ainda por cima ficar decepcionado com isso.

-Mande-o entrar.

E o dia seguiu, pior que todos os outros, e sem ela.

De noite, parti sem mais para meu apartamento, passando na frente de um buteco velho e mal freqüentado. Um cabelo vermelho néon estava do lado de dentro e eu senti meu coração travar. Olhei melhor e senti um alivio com decepção voltarem a minha boca. Era apenas outra mulher qualquer.

Larguei meu carro, subi o elevador, adentrei meu apartamento e segui minha rotina de higiene. Não tinha fome, nem vontade de comer.

Pensei que dormiria fácil, já que estava exausto e esgotado emocionalmente. Grande erro. Demorei horas, eu acho, e quando consegui, tive um sonho que certamente me perseguiria por um bom tempo.

Estávamos nos dois novamente. Revivendo a cena do beijo. Sentia o calor de seu corpo, seu perfume marcante e o sabor de sorvete de morango de seu batom. Sua boca. Seu sabor próprio. Nossas respirações acelerarem, a falta de ar que nossa fome criou. Quando ela se afastou, foi para retirar meu óculos e dizer outra coisa. A cena começava a mudar.

-Você tem medo.

-Vá embora

-Você tem medo de admitir que gosta de mim. Que me ama e me deseja.

-Não é verdade.

-Você retribuiu meu beijo

-Eu

-Você quer! Apenas ignore-os! Eu imploro, Nathan, Eu preciso de você!

E antes que eu pudesse tira-la do meu colo ou argumentar, ela novamente tomava meus lábios. Era irresistível e inegavelmente errado. Não conseguia deixa-la ir dessa vez. Pelo contrario, agarrava-a ainda mais, apavorado com a possibilidade dela sumir e se enfiar num buteco qualquer, bebendo cerveja vagabunda e sendo agarrada por outro homem, um bêbado nojento.

Minhas mãos a apalpavam por inteiro, agarrando-a sempre mais, puxando-a sempre mais para mim, desesperado. Preciso de você.

Os outros não existiam, e ignorava completamente que a porta do escritório sempre ficava destrancada. Nada importava. Algo começava a endurecer e a incomodar dentro da minha calça e certamente eu estava ficando mais envergonhado a cada segundo. Tentei recobrar minha consciência e faze-la me largar. Consegui. Bia também notara algo crescer lá e começar a cutuca-la.

Queria fazer algo, mas estava perdido demais em seus olhos e em sua boca, vermelha pelo beijo. Ela sorria, divertindo-se com aquilo e me senti insultado. Eu era seu brinquedo! Mais um que ela exercia poder e manipulava a seu bel prazer.

-Ora sua... – E fui calado com outro beijo, tão voraz quanto o primeiro. Com a diferença que dessa vez ela parecia menos apaixonada e mais excitada. Novamente, não pensava, não ligava para o que ela planejava com aquilo tudo e apenas voltei a agarrar-me com minha paciente chegando a perder a noção de onde terminava meu corpo e começava o dela.

Até sentir uma de suas mãos descerem do meu pescoço, onde me abraçava, e irem de encontro ao zíper da minha calça. Alisando a região e me provocando. Meu coração batia com mais força agora. De excitação e ódio.

Segurei novamente seus braços, forçando a a se afastar de mim e a me encarar. Continuava a se divertir, e agora ria.

-Agora. –Ordenei. Seus olhos sempre divertidos e carinhosos, agora estavam pervertidos e cobiçosos. Já não ligava mais pro que aconteceria. Não permitiria que uma adolescentezinha me usasse. Eu quem a usaria.

Obedeceu. Saiu de meu colo e ajoelhou-se de frente para a poltrona. Apenas a observava com ódio. Já tinham me enganado uma vez, não aceitaria uma segunda. – Abra. – Ela abriu minha calça e abaixou minha roupa de baixo, buscando meu membro rígido e pondo-o para fora.

Cada segunda, as coisas se tornavam piores. Meus sentimentos se misturavam a cada toque, lambida que ela dava. Gemia, chamava por seu nome, queria sentir seu peso em meu colo novamente. Queria toma-la para mim ali mesmo, e que se exploda a ética!

Humilhantemente, agia como um verdadeiro virgem e acabei indo rápido demais. Ou foi um barulho irritante ao fundo. Um barulho agudo, insistente.

Acordei quase jogando o maldito despertador pela janela. Tinha esquecido me completamente na noite anterior de desliga-lo.

Notei algo molhado e gosmento tocando minhas genitais e tive a vergonhosa constatação que tive uma Polução noturna.

-Droga! – Tudo que conseguia dizer, tamanha minha vergonha e humilhação diante de um sonho. Sonhos são pessoais. Se eu o tive, foi porque meu inconsciente o quis. Mais do que depressa, me levantei e fui tomar um banho, tentando desacelerar meu coração e acalmar meu organismo. Em seguida, troquei toda a roupa de cama e joguei a suja na maquina, ainda que minha vontade fosse de tacar fogo nela.

-Bia...

Para a minha infelicidade, as três semanas que se seguiram foram exatamente iguais. Tinha sonhos terríveis com Beatrix durante a noite – quinta a noite ou sexta a noite, as vezes, nos dois dias - e ela parou de ir ao consultório, sem dar nenhum tipo de aviso antes ou explicação para suas ausências.

Quando finalmente passa um mês, e começo a simplesmente guardar todas as minhas coisas e dispensar gradativamente meus pacientes para começar a dedicação total como professor, ela surgem.

-Então...O que houve?

Silencio. Ela parecia ter sido levada ali a força. Estava com o uniforme impecável, sem maquiagem, a camisa branca fechada sem aparentar outra por baixo. Cabelos presos por uma trança. Estava, definindo rapidamente, outra garota.

-Beatrix Maxwell, quero a explicação para a sua ausência durante quatro semanas consecutivas. – Tentava instiga-la, impondo a voz ainda que de forma carinhosa.

Ok, não estava muito certo se queria ou não ouvir sua explicação. Alias, ao ponto em que eu estava, não fazia mais idéia alguma de nada para fazer. Sentia-me perdido num barco sem bússola depois de uma tempestade me arrastar para muito longe da minha rota, e o céu ainda coberto de nuvens. Sem ponto de referencia. Sem guia, sem nada.

-Você sabe muito bem porque não vim. – Ela ainda não tinha dirigido seus olhos até a minha pessoa, apenas os focava no carpete, em algum ponto qualquer e fazendo força para se manter assim.

-Não, eu não sei de nada. Você quem se retirou daqui da ultima vez as pressas, sem explicações. Eu as quero.

-Não seja Cínico! – E me fuzilou com um olhar que sinceramente, senti todos os meus órgãos internos congelarem. Sede.

-Não estou...

-Está. Sabe o que aconteceu da ultima vez, não tente ignorar. Sabe porque não vim até hoje, e deve saber também que se não fosse obrigada, não viria mais aqui.

E afinal, ela era realmente uma mimadinha que não aceitava perder um jogo.

-Pode acabar logo com isso de uma vez por todas, admitir que não preciso mais de tratamento e me liberar? – E lá se foi seu olhar pra algum ponto da sala longe de mim. Não. Não era uma garota mimada. Tinha algo em seus olhos que ela queria esconder e eu precisava saber, apesar do pavor de já imaginar o que seria.

-Não sei de nada sobre seu tratamento ter terminado. A partir do momento em que tem um rompante daqueles, não vejo como libera-la sem mais nem menos. – Tentei, me esforcei ao máximo para continuar com a linha profissional, ainda que minhas preocupações que realmente estivessem começando a dirigir aquela sessão.

-Bia...Por favor. – Ela se levantou para ir embora novamente. Instintivamente, levantei-me ao mesmo tempo e fui atrás dela. A impedi.

-Me larga! – Não estava gritando ainda, por sorte, mas tinha uma força considerável que aplicava pra tentar se livrar dos meus braços.

-Não! Agora me escute!

-Escutar o que!? Uma desculpa qualquer sua para esconder sua covardia?! Você retribuiu! Você queria tanto quanto eu mas é covarde demais pra fazer qualquer coisa! – Dizia quase aos gritos enquanto tentava cada vez mais desesperada se soltar dos meus braços. Felizmente, estava se cansando, sua raiva passava e eu pude ter a confirmação do que seus olhos queriam tanto esconder. Tristeza.

-Me solta... – Pediu, tentando falar o mais rápido possível para que eu não notasse a diferença. – Você não é só um especialista em medo por estudar, mas também por ser um covarde incurável! – O baque daquelas palavras a deu segundos de vantagem para conseguir se soltar e correr pro outro lado do cômodo. Queria ficar o mais longe possível de mim depois de ter tentado estar o mais próximo que a física permite. Se não fosse minha posição estratégica entre ela e a saída, certamente teria feito que nem da ultima vez, ido embora batendo a porta e sem mais.

Tinha passado um mês dormindo mal, comendo pouco e quase desmarcando todos os meus pacientes sempre que podia, tudo porque uma pirralha desgraçada tinha embaralhado minha cabeça, e para pior, ainda tinha que ouvi-la falar a verdade.

Não conseguia falar, não conseguia pensar, precisava resolver aquilo rápido antes que surgisse a oportunidade de fuga. – Bia...Por favor...Eu. – Antes que eu pudesse terminar, ambos fomos surpreendidos por um bater na porta e uma cabeleira loira pintada aparecer pela fresta.

- S-seu Café, Dr. Corbie. E...Bia! – Miranda tinha aberto a brecha perfeita para a garota fugir, e obviamente, ela não perdeu a oportunidade e enquanto estava me recuperando do susto e pavor momentâneo de ser pego naquela situação, Beatrix já estava do lado de fora, saindo do escritório e descendo as escadas correndo.

-Miranda! – Minha secretaria ficou branca feito papel, saiu de lá gaguejando desculpas enquanto eu tentava me orientar em meio ao Caos. Existe ordem no Caos, infelizmente é quase impossível nota-la quando se está dentro dele.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Sextas - Cap I

Não tenho um nome pra essa história XD Só que simplesmente ela se enfiou na minha cabeça e não me deixa dormir de tanta ansiosidade! Aos que ja falei no msn, O nome foi alterado por motivos obvios HOHO Mas é a msm pessoa q vcs já sabem XD
Aceito sujestão de nomes pra historia. Ela será curta (I Hope).
E sem mais enrolaçoes XD Lá vai a merda
Por favor, sem xingamentos!.



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Mais uma sexta feira

E mais uma sexta em que acordo bem humorado.

Não sei direito quando eu passei a gostar desta data, mas simplesmente adoro as sextas.

Acordo cedo, tomo meu banho, me barbeio (caso já tenha o suficiente para isso) passo desodorante, loção e perfume, um pouco de creme no cabelo e simplesmente o penteio para trás. Meu armário não tem grandes variedades de roupa, mas sempre busco minha melhor. Afinal, é sexta!

Saio do meu apartamento, cumprimento meus visinhos. Hoje é o dia que nem aquela criança asquerosa dos vizinhos é capaz de me tirar o sorriso. Nem o meu carro velho e problemático me incomoda. A não ser, é claro, que ele me atrase para o trabalho.

Meu escritório fica próximo ao centro, ao lado de um colégio da elite. É bom para mim, que trata de adolescentes revoltados, seus pais me pagam muito bem todos os meses achando que sou capaz de concertar seus grandes defeitos. Tão ingênuos.

- Bom Dia, Miranda. – Digo a minha secretaria, que estranhamente cochichava com a secretaria de um escritório visinho ao nosso. Ela me sorriu como se estivesse se divertindo muito com uma piada. – Posso saber o que as belas senhoritas estão tramando?

-Bom Dia, Dr. Corbie...Não estamos tramando nada, apenas comentando a sua rotina de sexta feira. – Bingo, sabia que eu estava no meio.

-E posso saber o que tem de tão interessante em minha rotina de sexta? – Indaguei com um sorriso gentil e altamente perigoso. Miranda não deve ter entendido o recado, ou eu estava de tão bom humor hoje que ela simplesmente arriscou e seguiu.

-Nada de mais, apenas que você sempre faz a barba as sextas, você sempre veste sua melhor roupa as sextas, e também sempre passa seu perfume favorito. Tudo, apenas as sextas. Estávamos pensando que talvez, bom, alguma senhorita o estivesse fazendo-o feliz. – Estivesse dando pra mim, ela quis dizer. Conhecia-a bem, desde que abri meu escritório eu sei o perfil de pensamentos que essa mulherzinha de cabelos oxigenados tem. Mas isso não importava. Era sexta feira.

-Não posso apenas estar feliz de ser o ultimo dia da semana e que nos próximos dois dias estarei livre dessas adoráveis criaturas que passam por aquela porta e seus pais? – Ela deu ombros e apenas sorriu em resposta. A sua amiga do escritório ao lado notou meu olhar e saiu de fininho. – De qualquer forma, Dr., os professoras da universidade estão a sua espera. Deixei-os entrar e já servi um café. Gostaria que eu buscasse o seu?

-Fez bem em manda-los, e sim, agradeceria se apanhasse um café para mim também. – Finalizei a conversa e parti. Por alguma razão minha sexta parecia em perigo se eu continuasse aquela maldita conversa com a secretaria.

Bom, a manha em si foi bem simples. Conversas amenas sobre a faculdade e meu ingresso como membro oficial do corpo docente. Eles estavam impressionados com meu trabalho, assim como todos, mas isso simplesmente não era o suficiente para me animar. Sabia que o melhor estava por vir. Sorri, me despedi de todos e fui almoçar.

Observava sentado em minha poltrona a paisagem da rua. Precisamente, o colégio que tinha ali, e os carrões com motorista que vinham buscar os alunos. Sem perceber, mudei um pouco o foco de minha atenção para meu reflexo no vidro e passei a observar-me. Miranda estava certa. Estava mudando meus hábitos tão lentamente que nem me apercebera disso antes, que tudo que faço para melhorar meu visual é sempre as sextas pela manha. E isso estava sendo suficiente?

- Dr. Corbie? – E falando no diabo, lá estava ela na porta, sem ter batido. – Eu bati. – Ela disse, imaginando que levaria uma espetada minha por entrar sem antes avisar. – Miss. Maxwell está aqui.

-Mande-a entrar.

Virei me para a porta, sorrindo sem imaginar que o fazia.

Beatrix Maxwell é a típica adolescente rica encrenqueira que acredita piamente que pode fazer o que quiser para chocar e controlar o mundo. Sempre com roupas provocantes, maquiagem pesada e cabelo pintado de cores anormais. Se não fosse por sua inteligência, seu gênio se igualaria as demais moças de seu colégio. Alias, esse colégio que ficava bem próximo ao meu prédio. Era simplesmente maravilhoso conversar com ela, já que é difícil encontrar alguém com quem conversar e não simplesmente ensinar ou fingir que está interessado naquela chatice de convivência que nosso contrato social nos impõe.

-Vejo que mudou a cor para vermelho dessa vez. – Comentei ao ver a mudança radical de verde para vermelho néon. Sua roupa, por outro lado, era o uniforme de sempre, sua blusa social com o brasão da escola, saia de prega xadrez vermelha e verde e os sapatos de couro sujos. – Qual a personagem agora?

Ela me sorriu e senti minhas bochechas doerem. Parecia que meu sorriso alargava-se com o dela, e depois de tanto tempo já o fazendo, isso incomodava meus músculos faciais desacostumados ao movimento.

-Off with your head. – Resposta simples, objetiva, divertida e literalmente a cara dela. Bia jogou-se na poltrona destinada aos pacientes como sempre o fazia e passou a me encarar com um enorme sorriso.

- Tem um ano já.... Oras! Um ano que finalmente inaugurou seu próprio escritório, em vez de continuar apenas como estagiário da universidade! – Sua explicação completa deve ter vindo depois da minha expressão de perdido.

-Você tem uma boa memória Miss. Maxwell. E...?

-Credo Nathan! Já devo ter dito um milhão de vezes para não me chamar dessa forma, parece um médico! Só falta aquela bobagem toda de “e como se sente hoje?”

Não tive como não rir com a piadinha dela.

-Eu Sou um médico de certa forma, Miss Maxwell. E já estava me esquecendo disso, obrigado por me lembrar. Como se sente hoje? – Certamente teria voado algo em mim caso ela não estivesse de mãos vazias.

- Há há, muito engraçadinho, Dr. Corbie! – Ok, talvez eu entendesse seu ponto de vista sobre ser chamada pelo sobrenome e não pelo nome. Era simplesmente estranho e desconfortável quando ela fazia isso comigo. – Vou muito bem, sinto me maravilhosa depois de expor me na mesa de um carniceiro, como diz meu pai, e marcado minha pele finalmente. – Bia ajeitou sua postura, assumindo o papel de paciente cooperativa e interessada em fazer o tratamento dar certo. E isso certamente tornava as coisas ainda mais desconfortáveis.

-Então, passou a mutilar e marcar o seu corpo também? – Não estava feliz com isso, em contra partida, ela parecia, e muito. Seus lábios pintados de vermelho vivo curvaram-se ainda mais, aumentando o sorriso.

Ela se levantou, foi até o meio de minha sala em silencio. Retirou a blusa do colégio – já estava aberta mesmo, mostrando um corpete preto por baixo, de alças finas e com bojo – e em seguida, virou-se de costas para mim e retirou essa peça também.

Não sei o que deu em mim, minhas faces queimavam e eu sentia meu corpo se revirar por dentro, numa ânsia sem explicação. Tudo porque eu estava vendo suas belas curvas alvas, de costas, mostrando duas marcas negras como as de um violino na cintura. Sua primeira e nova tatuagem. – Por favor, Miss. Maxwell, vista-se. – Pedi, começando a sentir me mal e nem sabia o por quê.

-Oras, não gostou? E nem ao menos um comentário sobre como Freud explicaria isso? – Riu, divertindo-se muito com minha reação. Eu havia me perdido demais com tudo aquilo que ela estava expondo para reparar que ela virara a cabeça para o lado e passara a observar atentamente minhas reações.

-Por favor, Vista-se! – Disse mais uma vez, tentando impor mais firmeza e liderança desta.

Mesmo com cara emburrada, Bia finalmente vestiu suas blusas e voltou a se sentar. Foco! Foco! Me forcei a desviar o olhar de seu corpo e fui atrás de um lenço para limpar meus óculos quadrados.

-Não sabia que era tão careta

-Querer que se preserve e mantenha um nível em meu consultório é ser careta?

-Eu não fiz nada de mais, só queria mostrar minha nova Tattoo...

-E agora acha que vem aqui só para conversar?

-Certamente não venho aqui para me tratar!

E nessa hora ela se silenciou, estudando minha expressão para depois suspirar e rir, num misto estranho de desapontamento e divertimento.

-Sério...Sério mesmo que depois de dois anos você não tenha percebido o rumo das coisas?

-Do que está falando?

-Sobre você sempre se barbear as sextas, sempre vestir sua melhor roupa as sextas, passar perfume...Enfim, se arrumar como se fosse conquistar alguém nesse dia.

-Como pode afirmar isso? – E lá estava novamente essa afirmação. Meu estomago começava a se revirar, e quando eu finalmente passava a perceber que as sextas eram especiais, esta estava prestes a ruir, e nem sabia o por quê. – Você só vem as Sextas, nenhum outro dia.

-Ok, Dr. Corbie – E eu acho que fiz uma careta essa hora – Você é meu psicólogo ainda quando estagiava e eu tinha 12 anos. Naquela época você não se arrumava tanto, eu notei a sua mudança gradativa. Segundo, eu estudo ai na frente, te vejo todos os dias mesmo que não perceba, e sei que também me vigia da sua janela... E não tente negar! – Minha expressão certamente era de irritação por uma acusação dessas, porem deixei que prosseguisse, queria logo saber. – Todos os outros dias você está “normal”. Roupas mais antigas, expressão mais seria, as vezes, com um pequeno indicio de barba. E Miranda me confirmou, você só usa perfume as sextas também. – Agora sim, Miranda iria ouvir, e muito, sobre fofocar no ambiente de trabalho.

-E o que tem de mais em me arrumar melhor as sextas? Sabe muito bem sobre seus colegas que vem se consultar aqui, e o quanto eles são incômodos. Minha expressão se deve a isso, já com você, você é inteligente, o tempo é produtivo. – E o sorriso nos lábios pintados diminuiu, mudando para algo mais depressivo, desapontado. Não durou muito, feliz (ou infelizmente) e ela se levantou.

Já estava com meus óculos no rosto, e certamente não foi o suficiente para ler sua expressão como costumo ter facilidade faze-lo. Ela, basicamente ergueu-se da cadeira, caminhou decididamente até minha poltrona, virando-a a força para me obrigar a encara-la.

E a coisa mais estranha aconteceu.

Ela me agarrou e me beijou apaixonadamente. Uma de suas mãos segurava meu rosto com força enquanto a outra ainda segurava o encosto da cadeira. Devo ter passado um minuto inteiro agindo pela minha inconsciência, pois simplesmente quando “acordei” depois do susto, eu a estava agarrando pela cintura, retribuindo o beijo com tanta fome quanto ela veio para cima de mim. E mesmo acordado, eu não conseguia larga-la.

Foi Bia a primeira a se separar com um sorriso mais divertido e gentil nos lábios, com um acréscimo sutil de “vitória”.

-Disso que eu estou falando, Nathan... – Sua voz era baixa e carinhosa, ainda estava com o rosto muito próximo ao meu, ofegante depois do beijo.

Nunca, Nunca, Nunca quis aquilo. Já cometi meus “erros” com a sociedade, mas todos com quem mereciam. Não atacar uma paciente cooperativa e que eu gostava. NÃO! Não posso usar essa palavra.

Apesar de que, devo admitir que tomei uma atitude tão ruim – ou pior – que a de Beatrix quando a segurei pelos braços com força e a empurrei para o chão.

-Não se atreva a fazer isso novamente. – Não reconhecia minha voz, era mais forte, ameaçadora. Estava fora de mim, sem outra explicação.

Seus olhos claros encontraram com os meus, assustados, estava tão atordoada que nem ao menos reagira com insultos como costumava fazer ao ser maltratada. – Você é minha paciente, e isso é tudo. Agora levante-se e vá se sentar.

Tentei retomar meu tom controlado e indiferente, apesar de ser quase impossível aquela altura. Não obtive resposta. Ela apenas respirou fundo, levantou-se e limpou a roupa. Tinha um pequeno esfolado na perna por conta da queda no carpete. Não me olhou novamente, apenas caminhou a passos diretos para a porta.

-Beatrix Maxwell, volte a....

-Limpe a boca e passe gelo, ela está duplamente vermelha! – Interrompeu-me em tom autoritário, abrindo a porta e batendo-a atrás de si.

Talvez eu devesse ter me levantado e a impedido de partir, só era impossível faze-lo. Ainda estava tentando digerir tudo que acontecera nos últimos dois minutos.

Eu a tratava, sua agressividade excessiva desde que tinha 12 anos, alias, 13, já que no mês seguinte ao inicio do tratamento ela fez aniversario. Ainda estava estagiando, agora já tinha meu próprio escritório e continuava tratando-a, por insistência da mesma já que seu pai pensava em mudar de consultório.

Sempre mantivemos os horários das sextas.

Sempre me arrumo as sextas.

Não deve...Não Pode Ser.

Passei os dedos sobre os lábios. Ainda conseguia sentir o sabor dela, e a textura do batom que ficou em mim. Puxei rapidamente um lenço de papel da gaveta e limpei com repulsa minha boca, deixando-a ainda mais vermelha de pressão.

-Dr. Corbie? – E eu ainda mataria Miranda por nunca bater na porta. – O que...Aconteceu...? – Ela parecia escolher bem as palavras, com medo. – Bia acabou de sair na metade do tempo e...

-Traga-me um copo d´água, com muito gelo. Agora. – Sua demora em atender mereceu uma fuzilada. Daria um jeito nessa secretaria intrometida assim que conseguisse colocar meus pensamentos em ordem. – E desmarque todos os outros pacientes, eu vou para casa!