segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Cap IV - Sábado

-Bia...Mas...Por que?

-Você é fraco demais, covarde demais. Cansei – Ela deu ombros e seguiu embora, com um outro homem, mais alto que eu e muito mais imponente.

-Bia, por favor...Não! Não! – Eles partiam sorrindo e rindo, me ignorando.

-NÃO! – Acordei assustado, suado e minha cama também estava úmida de suor e outra coisa diferente. Ela não estava ali. Pânico momentâneo, embaralhado com flashes do que aconteceu na noite passada. Suas mãos me acariciando e arranhando, por falar neles, estavam ardendo um pouco minhas costas. Arrancando minhas roupas, seus gemidos, seu silencio na dor. Lembro-me de quão feliz e apavorado fiquei ao perceber que não era só eu quem estava fazendo aquilo pela primeira vez. Sangue.

Estava ali. Não foi um sonho! Uma mancha vermelha no meio dos lenços, aquilo realmente aconteceu! Mas...Onde ela estava?

-Bia? – Me levantei e senti um cheiro constrangedor. Era melhor tomar um banho antes de qualquer coisa. Assim o fim, notando com certo carinho que havia outra toalha pendurada no box pra secar. Ela tinha tido a mesma idéia.

Sai, sequei-me e vesti uma bermuda velha de ficar em casa. Um barulho vinha da cozinha, e assim que pus os pés na sala – áreas conectadas – pude ver uma mesa posta e ela de costas pra mim, vestindo uma de minhas camisas sociais que se tornava um verdadeiro vestido nela. Estava terminando de apanhar dois copos.

Sorri e deixei meu corpo encostar na parede de ligação das áreas enquanto a observava.

-Sempre pensei que era trabalho do homem levar o café até a dama.

Quase tive uma pequena crise de risos ao vê-la tropeçar e cair sentada numa das cadeiras.

-Nathan!

-I´m so sorry. Não resisti.

-Humf, engraçadinho. – E fez uma careta, cruzando os braços e se mantendo sentada onde estava. Não tinha mais o que fazer mesmo, tudo já estava posto e a minha espera. Torradas, manteiga, geléia, uma caixa de suco de laranja e certamente isso era tudo que tinha. Eu e a cozinha tínhamos uma relação distante, e de alimentos, apenas o estritamente necessário.

-Você deveria fazer umas compras.

-Não como em casa e nunca ninguém vem aqui.

-Ah, então toda essa arrumação irritante é sua mesmo?

Fechei a cara. Não é porque sou um homem solteiro que tenho que ser bagunceiro. Sentei-me ao seu lado e a abracei. – Preferia ter acordado com você do meu lado...- Palavras sussurradas, ela se aninhou mais em meus braços sorrindo.

– Não consegui dormir muito. Estava cansada...e... tive um pesadelo...

Bom, pelo jeito, as coisas estavam sendo compartilhadas.

-Um pesadelo?

-É...Que alguém me levava a marra pra longe daqui e você simplesmente deixava... E...Ah, deixa pra lá. – E me abraçou de volta, com força.

-Tive um pesadelo parecido...Só que você quem partia, e por vontade própria.

-Nunca!

A resposta rápida me fez sorrir, me tranqüilizar. Era tudo que eu precisava ouvir. – E eu nunca vou deixar te levarem de mim...I promise...

Vários beijos no ombro, pescoço, e por fim, nos lábios. Estava faminto, como se finalmente tivesse me curado de um mal que me afligia por muito e muito tempo. Agora, com ela ali, tudo estava bem, tudo ficaria bem, e eu podia continuar.

Apesar de...Lá no fundo, alguns medos gritarem comigo.

-Não tem...Problema, você ter passado a noite fora? – Indaguei assim que fui liberado e comecei a passar um pouco de geléia na torrada.

Ela riu. – Com alguma sorte, eu volto pra casa no domingo. Eles já estão acostumados, nem ligam mais!

Aquilo era estranho e me preocupava. Se ela era virgem até noite passada...O que raios ela ficava fazendo fora tantos dias da semana?

-Eu vou pra bares, baladas, e durmo na casa de uma amiga, que alias, mora aqui por perto. – Respondeu meus pensamentos, provavelmente minha expressão me denunciara mais uma vez.

-Ah sim...- Tentei me controlar, ainda sentindo um pouco de ciúmes.

-Alias...Me desculpe, acho que te devo um jogo de lençóis novo... – Comentou sem graça e só então lembrei-me da mancha. Silencio constrangedor. Não era pra ser assim droga! Nos já...Bom, tínhamos feito, porque ainda sentíamos tanta vergonha?

-Não foi culpa sua – E não era mesmo, apesar de que, ela poderia ter me contado antes...

Ok, se tivesse o feito certamente eu não teria coragem de continuar, independente do nível etílico na minha corrente sangüínea. Eu já quase dei pra trás quando notei algo um pouco mais complicado e notei a cara de dor dela. Era bom, assustador, complicado, simples e fantástico. – Você está bem...? – Acho que hora errada para perguntar isso. Alias, acho que foi uma péssima pergunta, infelizmente, quando notei eu já tinha feito. Bia quase engasga com o suco de laranja, suas faces mais do que vermelhas e eu senti as minhas começarem a arder também.

-Foi perfeito... –Ela disse por fim, tentando esconder o sorriso com o copo de suco. – Doeu – Continuou, antes que eu fizesse outra pergunta. – Mas foi com você, então foi perfeito. Tenho certeza que vai ficar melhor. – Riu baixo e piscou um de seus olhinhos pra mim. Estávamos no mesmo barco e ainda assim ela parecia inúmeros anos mais madura que eu naquele assunto. Nunca pensei que me sentiria tão inseguro. Também, depois de formado, eu nunca pensei que faria aquilo e tinha feito.

Preferi não falar mais nada a respeito e não me humilhar mais. Com o tempo a coisa melhorava, eu era um cientista, só precisava de...pratica.

-Se não tem comida em casa...Para onde vamos hoje? – Bia animava-se rapidamente com a idéia de sairmos. E lá estava meu medo novamente no meu colo feito uma criança irritante gritando comigo que NÃO era para sairmos.

-Bia...Talvez não fosse uma boa idéia.

-E por que não?

-Nos falamos sobre isso ontem...Se nos virem...

Respirou fundo, procurando paciência sendo que ela quem estava sendo a atirada.

-Primeiro, Dr. Corbie. Não é a cidade inteira que nos conhece e vai acabar dando com a língua nos dentes. É só sabermos onde ir...Segundo, não precisamos andar agarrados por ai feito namoradinhos... – E sorriu divertidamente. – Ou não vai resistir?

Odiava quando ela fazia esse tipo de provocação.

-Que eu saiba...Você quem me agarra quase sempre.

-Não no carro, parado na frente de um bar cheio de gente.

Corei. Tinha me esquecido disso. Maldito Whisky.

-Então...Vai levar a sua garota para jantar ou não?

-Desde que ela não fique me provocando e provocando os outros.

Vez dela emburrar e minha de rir.

-Oras, era só o que me faltava! – Começou a comer seu pão com geia e a me ignorar.

-Ok, ok...Então, minha garota gostaria de sair para jantar comigo hoje? – Puxei a cadeira dela para mais perto, abraçando-a com um braço e dando uma fungada no seu cangote.

Ela riu e se aninhou perto de mim.

-Que tal um cineminha antes?

-Não seja tão abusada

-Ah! Vamos! Por favor! – E fez a cara mais dengosa que podia. Quase tive uma crise de risos.

-Vamos ter que encontrar um cinema bem afastado então...

-Eu conheço um!

Uma agulhada de preocupação e ciúmes. Por que ela conhecia um cinema afastado de todos?

-Hey hey, apenas confie em mim, ok?

Preferi deixar o assunto morrer e terminar o café da manha.

Saímos pouco depois, ela tinha que comprar uma roupa nova em algum lugar, seria estranho ficar usando uniforme do colégio por ai. Almoçamos fora em um dos limites da cidade. Me surpreende o quão bem ela conhece os confins da nossa cidade, e mais, o porque ela os conhece. Não consegui arrancar justificativa, apenas a mesma frase que encerrou o problema no café da manha.

Só uma coisa me incomodava de fato. Os olhares. Ou olhares maliciosos pra cima de Bia que faziam meu sangue ferver em ódio, ou os olhares pra cima de nos dois, como se soubessem e me acusassem silenciosamente daquilo que toda a sociedade condena.

-Apenas ignore-os.

Aparentemente não consegui controlar meu olhar e meu gênio diante de tanta insolência, e precisei da voz dela para me acordar.

-É difícil, eu sei, mas vamos, o filme logo vai começar!

Ela me puxou pelo braço, tentando parecer como uma irmã ou qualquer coisa do gênero. Dentro do cinema de quinta, com tudo escuro e uns poucos espectadores – a maioria casais de áreas próximas – a coisa mudou um pouco. O filme não era dos melhores, quase saindo de cartaz, e ainda assim acho que foi uma das melhores idas ao cinema que já tive. Principalmente que a atração principal estava do meu lado e não na tela.

Saímos, fomos jantar como ela queria. Um restaurante de frutos do mar que tinha ali por perto. Entramos, sentimos o cheiro e saímos. No fim uma comida chinesa foi o nosso jantar, já no meu apartamento e ela usando sua nova camisola (minha camisa social de hoje de manha).

Era estranho ter um dia de namorados como os casais normais tinham todos os fins de semana. Ok, quase normal já que tínhamos que tomar infinitos cuidados por ai.

Na volta, alugamos também alguns dvds de filmes, que depois que começava, passava a receber tanta atenção nossa quanto o filme no cinema. Ou seja, Nenhuma.

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